sábado, 21 de junho de 2008

As Vozes do Mundo

"No vento que uiva
a quem saiba escutar,
o eco da chuva
num cão a ladrar.
No som do relógio,
no sino a dobrar,
as vozes das fontes
na pedra a falar.


Nas sombras dos tempos
os velhos sabiam,
ouvir as vozes do mundo a falar,
onde o segredo é saber calar.


Na sombra dos tempos,
os velhos diziam:
tudo no mundo vivia a falar,
os homens, as pedras, o sol e o luar,
os bichos da terra e os peixes do mar.


E falam as vozes nas ondas do mar
no som das esferas, de noite ao luar.
Nas velhas quimeras que falam a sós
de lá do outro mundo, no fundo de nós."


(Pedro de Orey)



Sophia

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Com outros olhos

Hoje é dia de repensar!
Por vezes, somos de tal modo arrastados por uma rotina, que fazemos coisas que já nem questionamos e que são perfeitamente desnecessárias e deixamos por fazer algo que está estabelecido não se dever fazer.
Por vezes, esta rotina e o que outros nos mostraram por seus olhos está tão intrincado em nós que ficamos estupefactos quando somos obrigados a parar e repensar.
É bom mantermos a sobriedade de não nos deixar arrastar e cair em rotina. É bom questionarmos. É bom colocarmos lentes diferentes e darmos diferentes leituras àquilo que outrém nos expõe. É bom explorarmos a constante novidade das coisas. O que pensamos e vemos em cada uma delas é tão válido como aquilo que alguém viu nelas ontem e como o que outro alguém verá nelas amanhã, pelo simples facto de que todas essas ópticas têm um porquê.

“Os meus olhos são uns olhos.
E é com esses olhos uns
que eu vejo no mundo escolhos
onde outros, com outros olhos,
não vêem escolhos nenhuns.


Quem diz escolhos diz flores.
De tudo o mesmo se diz.
Onde uns vêem luto e dores
uns outros descobrem cores
do mais formoso matiz.


Nas ruas ou nas estradas
onde passa tanta gente,
uns vêem pedras pisadas,
mas outros, gnomos e fadas
num halo resplandecente.

Inútil seguir vizinhos,
querer ser depois ou ser antes.
Cada um é seus caminhos.
Onde Sancho vê moínhos
D. Quixote vê gigantes.


Vê moínhos? São moínhos.
Vê gigantes? São gigantes.”
(António Gedeão)


Sophia

terça-feira, 10 de junho de 2008

Muitos Uns

“Sou médico. Um médico é um médico; não escolhe doentes nem caminhos. (...) Um homem morto. Uma realidade directa que me tocava de perto. Tinha estropiado cadáveres na morgue; chegara a ver enfermos a agonizar durante as lições nas enfermarias; vivia cercado de doenças, misérias, estertores. Mas, tudo isso eram acontecimentos necessários para a lógica dos tratados. Esta morte dizia-me respeito. Conhecera o primo Lucas longe desse ambiente; era um homem, uma coisa viva e misturada nas recordações da minha infância; um ser pronto a sofrer, pronto aos júbilos e às desventuras. Os outros homens da enfermaria ou do necrotério não tinham para mim um história, serviam para confirmar uma ciência.
Alguma coisa estava brutalmente errada. Haviam-me iludido, magoado. Recebia uma lição. Daí em diante sofreria até à angústia o que é ter uma vida nas nossas mãos, uma vida que nos é entregue: um misto de desafio, de responsabilidade e de desespero.”


(Fernando Namora)


Sophia

quarta-feira, 4 de junho de 2008

(In)Capacidade

Por vezes, querer não chega. Aliás, por vezes, pura e simplesmente, não chega. Independetemente de quereres, não saberes o que queres, ou achares que queres e não queres, por vezes, não chega. Por vezes, o que sentimos e o que fazemos fica num outro plano disso que queremos ou não queremos e achamos que sim, e não dá.
Não dá! Não chega! E é tudo!


Sophia