terça-feira, 1 de setembro de 2009

O Que Nos Conta a Es/História...

Completam-se hoje 70 anos desde que a Alemanha Hitleriana invadiu a Polónia, lançando ao chão a primeira pedra, para o início de uma grande lição para a humanidade, a Segunda Guerra Mundial. Mais do que relembrar aquilo que o passado nos ensinou, ou devia ter ensinado, esta data serve ainda de repto para vos recomendar uma obra que nos conta uma estória ligeiramente diferente, ao fim ao cabo, uma perspectiva diferente de uma história que já conhecemos, o filme Inglourious Basterds, de Quentin Tarantino.
Neste filme, os mártires judeus e os seus aliados assumem um novo papel ao responderem ao terror nazi com idêntica crueldade.
Certo ou errado!? Isso é com cada um.
O que nos é, de facto, oferecido é uma imagem diferente de um tema que poderia parecer já cinematograficamente esgotado, na forma de um humor inteligente, por vezes, subtil, não ofensivo, mesclado com algumas imagens e sons fortes para os mais susceptíveis e com interpretações praticamente irrepreensíveis.
Quanto à estória e a tudo o resto, apenas vos digo para verem, porque vale a pena!


Sophia

Sarcasmo com Nota 20

Quase ao jeito de uma Cantiga de Escárnio e Maldizer dos tempos Medievais, este texto irreverente e aguçadamente irónico, pega no mais mesquinho da mente e hábito portugueses para uma tentativa de educação e promoção de saúde. Depois de tantas campanhas pela via da seriedade, resta o caminho do sarcasmo e o tom provocatório, para tentar abanar o excesso de facilitismo nacional e criar comportamentos minimamente responsáveis e salutares na população portuguesa.

Dez dicas para um Verão irresponsável

"E eis que o momento de descontrair se aproxima. Contam-se as semanas, depois os dias, depois as horas... e as férias de Verão chegaram. Você, contudo, não é como os outros. O seu espírito indómito e independente pode levá-lo onde poucos chegaram. Ficam abaixo alguns conselhos que garantem que terá o Verão mais inesquecível da sua vida.

Em viagem
1. Velocidade e segurança
O seu carro é uma bomba e as auto-estradas não foram feitas para otários. Em três ou quatro horas é perfeitamente possível ir do Porto ao Algarve a uns tranquilos 180-200 Km/hora . Não deve usar cinto de segurança , claro, porque isso impede-o de se espreguiçar quando lhe dá o sono, o que pode ser perigoso. Do mesmo modo, as crianças ficam irritadiças com os cintos, pelo que podem perfeitamente brincar com o cão soltas lá atrás.


2. Água
Não leve água no carro. Aumenta desnecessariamente o peso da viatura e priva-o da aventura de, num descampado, procurar um regato ou um poço com as crianças, de onde beberão a pura água da natureza (não é preciso ligar à cabra morta que está de molho a montante, que é tudo orgânico).

3. Janelas abertas
O vento a entrar pelas janelas do carro cria uma enorme sensação de liberdade. Isto é sobretudo verdade logo de manhãzinha e no princípio do Verão, com
níveis polínicos incandescentes, e ainda mais se tiver a sorte de sofrer de rinite alérgica ou de asma. Nada de ares condicionados com filtros no carro, que toda a gente sabe que fazem mal à saúde: janelas abertas é que é. Logo à noite os seus olhos e nariz congestionados e a pingar serão o sucesso do restaurante.

Praia e campo
4. Sol
Você quer para si e para a sua família aquele ar curtido dos verdadeiros pioneiros, certo? Portanto,
esqueça os protectores solares e hidratantes. Quando muito, um óleo bronzeador, que reforça o tom da pele. Tenha o cuidado de chegar com a família à praia pelas onze e meia da manhã, de modo a serem vistos em todo o vosso esplendor. Nem pensar em t-shirts brancas, que ferem a vista, nem em chapéus para adultos ou crianças, que o ar do mar e o sol enrijecem os miúdos, e quanto mais novos começarem, melhor. Faça umas sestas retemperadoras ao sol, tendo o cuidado de se virar periodicamente para tostar por igual. Depois das quatro da tarde já não há ninguém de jeito na praia, pelo que o melhor é mesmo regressar a casa. Se à noite você e o seu par estiverem virados para um momento romântico, o toque sado-maso da pele queimada aliado ao contorcionismo kamasútrico necessário para evitarem as áreas escaldadas resultarão num importante reforço da vossa relação.

5. Bebida
A água, está comprovado cientificamente, enferruja. Em passeios no campo ou na praia deve beber-se
bebidas fortes, com muito açúcar, e isto para as crianças, claro, que há cerveja e cocktails em abundância para os adultos. O álcool, sobretudo, deve ser consumido em grandes quantidades porque depura substâncias nocivas através dos poros.

6. Comida
O ar forte do mar e do campo exigem alimentação à altura. Fruta e saladas, nunca - apenas
vegetarianos anémicos defendem esse tipo de absurdo. A feijoada que sobrou do jantar da véspera dará um excelente piquenique. Uma boa sardinhada (pelos menos uma dúzia de sardinhas por cabeça, mais a respectiva dose de batatas, pão, pimentos e tinto) um cabrito no forno, favas com chouriço, são pratos tradicionais adaptadíssimos a um dia na praia. Saia directamente da mesa para um banho de mar e desfrute do indizível contraste com a frescura das ondas, bem como da alta tecnologia da ambulância do INEM que o conduzirá à Urgência mais próxima.

7. Repelentes de insectos
Os repelentes são uma
invenção inútil da indústria. O contacto com mosquitos, pulgas, carraças, vespas e outros seres naturais deve ser encorajado, tornando-nos unos com a Mãe-Terra. Uma criança crivada de picadas desencadeia ternura. Poucas imagens são mais estimulantes que a de um homem às quatro da manhã aos saltos na cama em confraternização com as melgas que o acompanham na travessia da noite.

8. Crianças à solta (piscinas, poços, etc.)
As férias são um espaço de liberdade e aventura. As crianças devem ser encorajadas a explorar, desde cedo, a natureza que as rodeia, e a descobrir, autonomamente, os instrumentos de sobrevivência de que a natureza as dotou. As piscinas sem protecção, por exemplo, são um
óptimo meio de aprendizagem de natação para bebés. No campo, poços, ravinas, buracos, destroços, constituem fascinantes oportunidades de descoberta que as crianças deverão explorar por si mesmas. Alguns danos colaterais apenas reforçam a capacidade darwiniana de sobrevivência da espécie.

Discoteca
9. Pastilhas e líquidos
Se gosta de dançar, o Verão é para si: as discotecas estão repletas de gente linda e feliz. À entrada encontra facilmente uns senhores muito simpáticos que lhe providenciarão um amplo suprimento de
pastilhas naturais (ou não) que lhe permitirão bombar até às duas da tarde do dia seguinte. Use e abuse das pastilhas e beba toda a água que possa, de preferência água destilada, que é mais pura, acompanhada do maior número de shots que for capaz de emborcar. Não consuma bebidas com electrólitos - afinal a ideia é mesmo depurar o seu corpo de todos os electrólitos e sais minerais possíveis através do suor. As memórias de uma noite assim farão mais tarde as delícias dos seus companheiros de hemodiálise - isto, claro, se na altura ainda for capaz de falar.

Sexo
10. Preservativos
O sexo, no Verão, é mais escaldante - rever o ponto 4, acima - e você não quer perder nada do que estiver ao seu alcance. Sendo jovem (seja qual for a sua idade), forte e saudável, nada evidentemente lhe toca. Portanto, sexo é quando e como lhe apetecer e, claro, sem preservativo, que temos de proteger as florestas amazónicas que dão borracha. De qualquer modo a SIDA é um mito inventado para vender comprimidos caros e é fácil perceber se alguém está infectado pelo aspecto da pessoa, certo
?"


(por Armando Brito e Sá, Médico de Medicina Geral e Familiar e Professor no Instituto de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina de Lisboa)

Porque as coisas não acontecem só aos outros, porque sorte não é partir uma perna em vez de morrer num acidente de viação e porque o azar não está sempre atrás da porta...
Mas, porque, muitas vezes, se colhe o que se semeia e esta m... não é toda nossa...
Resta acreditar que os portugueses percebem o conteúdo irónico deste artigo e esperar que tenha alguns efeitos positivos na nossa mentalidade e no nosso conceito de civismo.



Sophia