sábado, 21 de setembro de 2013

Tempo


E assim é...que por onde andas não sei, corres e corro mais, que não te alcanço, sempre nesta luta incessante, cansativa, desafiante, entusiasmante, vão-se quebrando os elos que se apartam e excruciante o som de páginas que amarrotas, das horas, dias, meses que se viram e não tornam nesta luta empenhada de único sentido, que nos intermeios nada mais se permitiu.


"Tempo — definição da angústia.
Pudesse ao menos eu agrilhoar-te
Ao coração pulsátil dum poema!
Era o devir eterno em harmonia.
Mas foges das vogais, como a frescura
Da tinta com que escrevo.
Fica apenas a tua negra sombra:
— O passado,
Amargura maior, fotografada.

Tempo...
E não haver nada,
Ninguém,
Uma alma penada
Que estrangule a ampulheta duma vez!

Que realize o crime e a perfeição
De cortar aquele fio movediço
De areia
Que nenhum tecelão
É capaz de tecer na sua teia! "

(Miguel Torga, in 'Cântico do Homem')




Sophia

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